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Moisés Jakobson - Polônia
Moisés é um filósofo que não teve tempo nem condições de filosofar. Nasceu em 1926, 13 anos antes da Segunda Guerra começar, e só teve tempo de fazer o Bar-mitzva antes que os nazistas chegassem. Foi feito prisioneiro, mandado para diversos campos de concentração e passou os seis anos do Holocausto lutando pela sobrevivência nos campos da morte. Nos anos seguintes teve de lutar para reconstruir a vida. De toda sua família, só restaram ele e um irmão. Filosofia era um luxo ao qual ele não podia se dar.
Quando os russos o libertaram ele só tinha uma certeza: sair da Polônia o mais rápido possível. Decidiu vir para o Brasil, apesar de não saber nada sobre o país. Não conseguiu visto, pois o governo de Getúlio Vargas não era simpático aos refugiados da Shoah. Conseguiu visto para a Bolívia e, como era ao lado do Brasil, achou que seria tão fácil cruzar a fronteira da floresta amazônica quanto a fronteira da Polônia para a Alemanha. Só mesmo um filósofo para pensar assim!
Mas Moisés, como todos os sobreviventes, é uma pessoa especial e não desistiu. Depois de alguns meses na Bolívia trabalhando em uma madeireira, pegou um barco e chegou ao Brasil.
Tinha alguns conhecidos no Paraná e acabou em Curitiba. Trabalhou, casou, teve filhos, reconstruiu sua vida dentro da fé judaica e nunca parou de filosofar. Debatemos a facilidade e passividade com que o povo alemão, culto e esclarecido, aceitou participar do assassinato de 6 milhões de judeus, sendo um milhão e meio de crianças. Discutimos o antissemitismo polonês de antes da guerra, e Moisés também analisou o caráter hospitaleiro dos brasileiros, que ele adora. Mas isso é tema para um livro inteiro.